O outro lado do medo (parte 1)
Eram oito horas e quarenta e seis minutos de uma manhã de inverno rigorosa na qual o vento se fazia sentir ao estremecer as persianas e a chuva se fazer ouvir ao embater contra elas. Do quarto d'O rapaz dos filmes, em casa da avó paterna, que fica mesmo ao lado do quarto onde o seu irmão e a sua avó dormiam, só se ouvia a música do genérico da websérie "Escola dos Youtubers". Fora esta a música que decidi usar para começar o primeiro dia de gravações das minhas curtas metragens; neste caso, da curta metragem intitulada de "O outro lado do medo". Do quarto ao lado veio, em passo apressado, a minha avó desligar o despertador e tentar-me convencer a voltar a adormecer. Tarde de mais. Já tinha recuperado a consciência, após um curto período de descanso (sim, tinha dormido poucas horas), de que era o dia de tornar mais um sonho realidade.
Levantei-me da cama, vesti à pressa a roupa que iria usar, dirigi-me à cozinha para fazer a minha habitual torrada com manteiga acompanhada de uma caneca de leite de chocolate quente e, por fim, lavei os dentes. Do outro extremo do apartamento não se ouvia nem uma mosca, estava um silêncio atípico, mas explicável pelo facto do meu irmão continuar a aproveitar as suas férias de Natal. Já vestido o casaco, com as chaves da garagem na mão e as mochilas com o equipamento necessário às costas, só faltava dar o habitual beijinho no rosto da avó paterna, e dirigir-me para o "set de filmagens". Estava com receio de ter chegado atrasado, mas mal sabia aqui O rapaz dos filmes que tinha chegado demasiado cedo. Eram nove e meia da manhã.
Comecei a montar o equipamento. Peguei no tripé meio estragado e posicionei-o. Usei uma mesa de plástico para colocar as mochilas, a claquete novinha em folha e o dossiê com os guiões. O estado do tempo parecia não permitir gravar no exterior, como inicialmente tinha planeado. Assim, montei o cenário dentro da garagem - para isso tive de arredar os sacos de batatas e cebolas e as garrafas de azeite que, ainda assim, aparecem ligeiramente no resultado final da curta. Do nada, entraram as gémeas Mara e Susana que perguntaram como iriam fazer para gravar no exterior. Assim, expliquei como tudo iria decorrer.
A curta metragem tinha três cenas. Na primeira, que iria ser gravada à entrada da garagem e dentro da mesma, participariam as gémeas e a prima mais nova Mimi. Na segunda, só participariam a Mara e a Susana, cuja gravação decorreria também no interior. Ainda aproveitariam a parede branca da garagem para fazerem a sessão fotográfica das personagens (ou photoshoot). Depois do almoço, gravariam as três raparigas na sala de estar a terceira e última cena do dia.
Excerto da curta metragem "O outro lado do medo"
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